A foto é posterior a 1966 e dá para
ver a mesa de comando do Gamma 30. Aparecem eu, Paulo Aliprandini
e Munia. |
Lembro que nesta época o atendimento
ao cliente que queria sacar era feito em diversos passos, todos muito lentos.
O volume embora menor do que nos nossos dias vinha crescendo e colocando em risco
a segurança do serviço com muita possibilidade de erro. Por outro lado os controles
eram fracos devido a relação máquina volume de mão de
obra. A assim nem sempre a agência sabia o montante exato dos saldos de depósito.
A rotina para sacar dinheiro da conta corrente e longa e penosa. Tínhamos que
entregar o cheque no balcão a um funcionário que passava para trás dos caixas
em troca de um ficha numerada. Na retaguarda a assinatura era conferida e o valor
do cheque lançado numa ficha do correntista com aquela máquina “National
Classe 31”. O cheque era passado ao caixa que ficava dentro de uma “gaiola” com
guichê bem reduzido para o atendimento. Acumulavam-se os cheques e o caixa chamava
um a um para pagar ou atender outros serviços como fornecimento de talonário,
por exemplo. Tudo isto era muito lento.
Ao final do expediente as fichas movimentadas
eram somadas e no balanceamento deveria bater com a entrada e saída de dinheiro.
Qualquer diferença era um problema para resolver. Na ocasião havia diferenças
de compensação que não se conseguiu achar nunca.
Bem, a cavalaria chegou e precisava
ajudar a acabar com o caos que paulatinamente se instalava.
Primeira turmas: Clodoaldo, Jupyr,
Odair, DÉlboux e Eu |
A fama deste primeiro grupo de analistas
e programadores precursores era, na época, meio mística, tendendo para um certo
estrelato. Afinal a máquina era chamada de cérebro eletrônico. Para completar
o cenário ainda tinha alguns chegados numa barba de cientista estacionado no meio
da sala do computador com um olhar meio vago num ponto do espaço criava a cena
irretocável para os espectadores que vinham de toda a agência conhecer o cérebro
eletrônico. A imagem, eu creio era de gênios.
O sentimento dos funcionários de outros
setores envolvidos no processo era o mesmo desde que o mundo é mundo: qualquer
mudança sempre causa uma reação devido à insegurança que vem junto com a novidade.
A mudança prometida era de grande impacto e as atitudes já eram conhecidas
desde a época do nascimento do termo sabotagem. Qualquer explicação não é tão
forte nem convincente como o medo do desconhecido que invade seu território e
ameaça o status das pessoas.
Minha visão daquele momento é de que
o benefício seria muito grande, visto que o volume de funcionários, cerca de 2500
no prédio da Ag. Centro, não conseguia dar conta com
segurança dos serviços existentes. Além disso, a demanda por melhor atendimento
e novos serviços crescia sempre.
O remédio precisava começar a ser aplicado.
O primeiro sistema, de emergência, foi bolado pelo Chefe Azor e basicamente foi feito com cartão perfurado. Para cada
conta havia um cartão com o seu número, nome do correntista e saldo. Os caixas
anotavam no próprio cartão os lançamentos e débito e crédito e ao final todas
contas movimentadas tinham seu movimento perfurado em cartão. A movimentação era
então lida pelo computador que apurava um novo saldo e perfurava um novo cartão
com o novo saldo. Estes cartões das contas que sofreram movimentação eram juntados
aos demais de contas não movimentadas e classificados todos eles em ordem de conta.
É claro que antes da emissão de novos cartões perfurados todo o movimento era
reconciliado e o saldo de cada setor e da agência eram apurados com precisão.
Foi um sistema emergencial tanto que já no ano seguinte a análise de outro sistema
era iniciada.
Entretanto, gostaria de dizer que já
neste sistema comecei minha especialização em entrada de dados. Esta parte do
sistema geralmente exigia grande dedicação e preocupação em evitar qualquer erro
de lógica. Não havia rotinas pré-fabricadas e qualquer providência de depuração
exigia imaginação e detalhamento de toda a rotina. Por exemplo, uma data deveria
ser dissecada em todas as suas regras tais como ano bissexto, meses de 28, 29,
30 e 31, etc. Os cálculos do dígito verificador começaram com o processamento
de dados em computador e o cálculo deveria ser executado com precisão e rapidez.
A rapidez das rotinas era importante, pois deveriam ser realizadas debaixo do
tempo de execução das tarefas mecânicas como leitura de fita magnética ou de cartão
perfurado.